OnlyFans e expropriação do trabalho sexual
Comentário sobre mudança na política de conteúdo da plataforma.
Nos trending topics do LinkedIn urge a notícia: o OnlyFans restringirá o teor dos seus conteúdos sexuais, ameaçando a estabilidade econômica de milhares de trabalhadores/as do sexo que retiram da plataforma o seu sustento. Deixem-me apenas fazer um comentário a respeito do aspecto oportunístico e daninho desse tipo de agregador de conteúdo.
Não é de hoje que esse tipo de narrativa se repete: enquanto a roda gira sigilosamente com a produção de conteúdo pornográfico e assinatura de serviços sexuais, os acionistas deitam e rolam. Isso até haver algum processo de judicialização ou escândalo público. A partir daí vige a boa e velha “etiqueta” de se confrontar com embates públicos que explicitam a sordidez por detrás das convenções morais das famílias-margarina com os ingredientes de sempre: silenciamento, repressão e vilipêndio.
Que práticas sexuais nefandas, exploratórias e não-consentidas devem ser monitoradas e combatidas, isso para mim é premissa. Quisera eu que toda energia gasta nessas cruzadas morais fosse simétrica e honesta ao preservar a dignidade daqueles e daquelas que fazem dos serviços sexuais o seu ganha-pão.
Sobre a falta de clareza até agora sobre os parâmetros que definem que tipo de nudez não será castigada: é um prato cheio para a plataforma atuar de maneira completamente arbitrária e vampirística — com aqueles/as que deveria proteger.
Resta se perguntar se os/as investidores/as que viram suas participações bombarem ao longo do último ano vão repartir o bolo com aqueles e aquelas que tornaram isso possível.