Parece Um Conhaque / mEros Erros

Dezembro de 2022

_erinhoos
3 min readDec 6, 2022
«Parece Um Conhaque», capa. Arte: Alan Vitor.

Parece Um Conhaque é um nu artístico de mEros Erros, em todas as dimensões.

Não imaginei que meu segundo álbum fosse de voz e violão, eu que gosto de arranjos exuberantes. Eu não esperava este álbum, na verdade. Tampouco que ele viesse com canções tão honestas, de lirismo íntimo, que prescindissem daquela monumentalidade errática que faz parte do meu estilo. Mas veio, por um conjunto quase casual de circunstâncias.

Com efeito, as duas brevíssimas sessões de gravação no estúdio da Fábrica de Cultura Sapopemba (três horas ao todo) me ensinaram justamente que maturidade também pode vir com o desapego. Devo a Douglas Lopes a mágica por detrás desse menos-é-mais soar tão cristalino e verdadeiro.

Estou muitíssimo orgulhoso do meu trabalho como compositor. Acredito que o álbum se sustenta pela força das canções. Uma força que vem de dentro, mas assumidamente ancorada nos afetos. Maria, Rogerio, Gustavo, Potato, Fernando, Yuri, Juno e Paulo estão nessas letras. Com três exceções, todas as canções deste álbum foram compostas em um período de três meses, entre julho e setembro deste ano. Sentimentos frescos. As influências musicais são várias, de Velvet Underground, passando por Belchior, Reverbo, Cartola, até Jards Macalé e Gal Costa.

A música-título nasceu numa madrugada de julho, quando eu estava olhando para as poucas luzes acesas dos apartamentos de Moema às duas da manhã, chamuscando o ar e pensando, como está na letra, será que alguém acordado aí também passa pelo que eu estou passando? — um sentimento que, meu amigo Guilherme sugeriu, é inerente da experiência humana, mas obceca apenas o artista. Talvez esse sentimento seja o fundador da Arte.

Quem deu o nome pra essa música e, por consequência, para o álbum, sem querer, foi a Potato Mariana Maeda. Ela me escreveu, quando ouviu a demo pela primeira vez: TÁ COM UMA COISA! PARECE UM CONHAQUE! A única bebida que tem um fundinho, sabe? Tem aquilo que gruda na garganta. Bom demais!!! É tão bom que é até remédio.

Eu quero que esse álbum soe como o gosto de um conhaque.

A capa. Frustrados meus planos originais para a mesma, decretei que devia deixar de ser preguiçoso e trabalhar sobre sua concepção. Decidi que queria a ilustração de uma caveira tocando violão para uma plateia de ratos, conceito que foi magistralmente interpretado e executado pelo Alan Vitor, que me vestiu de Caveira com Cigarro Aceso do Van Gogh e convidou sua gatinha Shine para a capa, com um ratinho alado, tattoo de âncora e o lettering que Danilo Chaves havia concebido para um single meu de 2020.

Espero que o público acolha esse show desértico — literal, já que as músicas foram gravadas (e registradas) ao vivo — como os ratos ébrios dessa capa, desajustados, anônimos, invisíveis como Julian, escorados em desconhecidos. Ser humano às vezes é o estado de quem precisa de um ombro estranho.

Este álbum eu dedico à dor.

São Paulo, dezembro de 2022.

Ficha técnica

Composição, violão e voz: Eros «mEros Erros» Sester

Produção técnica e áudio-musicalidade (gravação, mixagem e masterização): Douglas Lopes @dodohlopes & Fábrica de Cultura Sapopemba @fabricadeculturasapopemba

Capa: Alan Vitor @alanvitors

Assistência técnica (Capa) e lettering: Danilo Chaves @danilokeys

Mecenato afetivo: Danilo, Victor, Potato, Fernando, Gaê, Marcelo, Rogerio, Maria, Gus.

Distribuição: Tratore

Spotify.

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_antropólogo, barista informal, errante incorrigível, cantor de karaokê, sérião nas horas vagas