_nota sobre anti-essencialismo no texto antropológico;

_erinhoos
2 min readJun 5, 2024
Fonte.

O que faz de um texto um texto anti-essencialista não é o mero gesto de citar autores anti-essencialistas, ou dar ciência da leitura deles, expor trechos de fichamentos ou coisa o que o valha. Isso porque citar autores e autoras anti-essencialistas não exime ninguém de cometer imposturas acadêmicas, epistemológicas, metodológicas e éticas.

Não adianta nada propor-se a um empreendimento anti-essencialista e proceder à mera “soma de opressões”, enunciando os marcadores como se eles pudessem se analisar a si mesmos, ou — pior — escancarando os preconceitos através de descrições torpes ou displicentes.

A hipocrisia epistemológica procede, por analogia, à análise interseccional. Citar Avtar Brah, bell hooks ou Anne McClintock, arrolando uma série de propriedades simbólicas, para desenvolver análises que obedecem ao oposto do paradigma crítico que nos é caro nas Ciências Sociais, é lamentável. Em ocasiões onde não se sabe o que falar, convém proceder ao infalível silêncio textual.

Há muitos anos ouvi da minha ex-professora de Sociologia do colégio que ela não citaria Foucault na sua tese eminentemente foucaultiana porque a ótica foucaultiana estava explícita no texto. Eu sei que ela falou isso por pura força de expressão. Mas às vezes eu preferia ler monografias com capítulos de fundamentação mais enxutos, que apresentassem a densidade das suas fundamentações não de maneira formal, mas na carne do texto, da análise, da descrição e do trato.

Citar um referencial anti-essencialista ou interseccional como referência não necessariamente faz do teu texto, como mágica, se tornar anti-essencialista e interseccional.

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_erinhoos

_antropólogo, barista informal, errante incorrigível, cantor de karaokê, sérião nas horas vagas